Para suprir carência de médicos na Paraíba, rede de profissionais do Recife oferece consultas e diagnósticos online
Publicado em 28/08/2013, às 06h21
Amanda Tavares
atavares@jc.com.br
Sandra Matos (de verde) já fez atendimento até em um supermercado
Hélia Scheppa/JC Imagem
Sandra Mattos é cardiologista. Dia desses, ela passou por uma situação inusitada numa fila de supermercado. No momento em que seria atendida, recebeu uma chamada pelo celular. Pediu para que o próximo da fila passasse à sua frente e começou a prestar atenção apenas no iPhone, de onde via um exame ser feito na Paraíba. Dessa forma, pode ajudar um médico de lá a diagnosticar um paciente, vítima de cardiopatia. Ao encerrar a ligação, percebeu que ninguém havia passado à sua frente. Todos, inclusive a funcionária responsável pelo caixa, estavam impressionados, tentando entender o que acontecia. Sandra acabara de fazer uma consulta pela Rede de Cardiologia Pediátrica Pernambuco-Paraíba, projeto que visa atender, via internet, pacientes do SUS que moram no Estado vizinho.
A ideia que a médica acalentava há muito tempo foi colocada em prática há dois anos, quando percebeu a necessidade de ajudar pacientes paraibanos, já que a carência de cardiologistas na região é grande e criava situações como “a fila da morte” - pacientes aguardavam atendimento por tanto tempo que acabavam morrendo. O governo da Paraíba resolveu apostar no projeto. Investe R$ 3 milhões por ano na compra de equipamentos (como iPads e aparelhos para exames), pagamento de profissionais e viagens, já que semanalmente uma equipe do Recife se desloca até lá para fazer cirurgias.
Por meio de uma plataforma online, os médicos dos Estados mantêm contato e, com iPads ou iPhones à mão, participam de reuniões, fazem consultas e dão diagnósticos. “Como a carência de cardiologistas é grande na Paraíba, pediatras cadastrados no projeto entram em contato conosco quando precisam. Para atendê-los, temos sempre médicos da nossa equipe de plantão”, explica Sandra Mattos. Existem hospitais e maternidades cadastrados em João Pessoa, Guarabira, Esperança, Picuí, Campina Grande, Monteiro, Patos, Itaporanga, Cajazeiras e Souza.
O garçom João Roberto dos Santos, 42 anos, de João Pessoa, sabe a diferença que a Rede fez no seu dia a dia. Sua filha, Renata Carolina, 9, é paciente do Círculo do Coração, organização não-governamental coordenada pela equipe de Sandra Mattos, que funciona no Hospital Português, no Recife. A menina é atendida pelo grupo desde os primeiros dias de nascida, quando precisou submeter-se a uma cirurgia para transposição dos grandes vasos.
Durante anos, a família teve que se deslocar ao Recife para exames. Mas, em 2012, a rotina da família mudou.
Durante anos, a família teve que se deslocar ao Recife para exames. Mas, em 2012, a rotina da família mudou.
“Com a implantação do programa, não precisamos mais viajar com tanta frequência. Agora minha filha é atendida pelo computador, evitando desgastes físicos e despesas. Sinto falta, somente, do calor humano da equipe médica”, descontraiu. “Temos plena confiança no trabalho, mesmo realizado à distância.”
O convênio com o governo da Paraíba foi assinado em outubro de 2011, mas os três primeiros meses foram dedicados a compra de equipamentos e capacitação de equipes. “Nas unidades de saúde cadastradas, recém-nascidos passam pela oximetria de pulso (exame que mede a quantidade de oxigênio no sangue). Se for necessário, é agendada a consulta. Cerca de 70% das crianças que nascem na Paraíba são monitoradas”, afirmou o coordenador da Rede na Paraíba, Cláudio Régis. “Com a estrutura reforçada, conseguimos ordenar o atendimento e evitamos que pacientes piorem por falta de acompanhamento adequado”, declarou a médica Juliana Soares.
Em julho, 30 profissionais da Rede no Recife participaram da Caravana do Coração, que percorreu municípios paraibanos. Durante a viagem de 1,8 mil km foram examinados 512 pacientes. Desses, 199 foram diagnosticados com problemas cardíacos e serão acompanhados pelo serviço de telemedicina.
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