Páginas

Pesquisar este blog

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

CRIANÇA Família vendeu menina duas vezes

Antes de oferecer a filha de 2 anos pelo Facebook, casal negociou criança com espanhóis, chegou a receber o dinheiro, mas não entregou a menina

Publicado em 19/09/2013, às 07h31

Marcela Balbino

Do Jornal do Commercio

 / Foto: Clemilson Campos/JC Imagem

Foto: Clemilson Campos/JC Imagem

A negociação dos filhos não era fato isolado na vida do casal preso anteontem por tentar vender uma menina de 2 anos pelo Facebook. Antes de travar o acordo com a paraibana, que denunciou o fato à polícia, o motobói, 40 anos, e a manicure, 23, haviam feito outro acerto com um casal de espanhóis. Eles se comunicavam pela internet, por uma página de Adoção. As passagens de avião já estavam compradas e o valor acertado, pago. Os acusados ficaram com o dinheiro, porém a menina não foi entregue. Ano passado, eles ‘doaram’ o filho de 3 anos para adoção, no Rio de Janeiro, cidade natal da dupla. As informações foram acrescentadas ao inquérito e fazem parte do depoimento da irmã mais velha da menina, que tem 17 anos.
A jovem mora em Jaboatão dos Guararapes há oito meses e se apresentou ontem ao Conselho Tutelar da cidade com a irmã de 4 anos. O depoimento dela, com ares de desabafo e desalento, foi peça fundamental para montar o intricado quebra-cabeça da venda de crianças, que encontrou campo fértil na internet.

Calejada pelas artimanhas do pai, fugitivo da Penitenciária de Nova Friburgo (RJ), onde cumpria pena por extorsão, a jovem, grávida de dois meses, afirmou ter saído de casa com medo que o pai vendesse o filho que ela carrega no ventre. Durante uma conversa, o homem insinuou a venda do bebê por R$ 10 mil.

“Ele iniciou a venda com esse casal da Espanha. A própria filha confirma que o pai recebeu uma quantia em dinheiro, que ela não sabe precisar quanto, mas não chegou a enviar a criança para o exterior. Ele a ameaçou e dizia que venderia a criança assim que ela nascesse. Com medo, a menina saiu da casa do pai”, explica o delegado da Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente, Geraldo Costa. A jovem acrescentou ainda que a madrasta é usuária de maconha e cola.

Segundo o conselheiro tutelar Gilmar Benevides, que acompanhou o acolhimento da menina de 2 anos, a mãe não demonstrou nenhum sinal de arrependimento. A irmã mais velha explica que a preocupação maior da madrasta era com a menina de 4 anos. “Assim que foram presos, eles me ligaram e pediram para pegar a minha irmã de 4 anos na casa de uma vizinha e ficar com ela. A mãe dizia não gostar da menor, por ela ser muito agitada”, diz a jovem.

O delegado Geraldo Costa explica que os pais irão responder ao crime 238, do Código Penal, que versa sobre a entrega do filho mediante pagamento. O delito, no entanto, é classificado como leve e o casal poderá pegar de um a quatro anos de prisão. Foi arbitrada fiança no valor de R$ 15 mil, mas os acusados não tinham recursos e seguiram para o Centro de Triagem (Cotel) de Abreu e Lima e para a Colônia Penal Feminina do Recife, no Engenho do Meio. De acordo com a legislação brasileira, crimes leves são afiançáveis.

Por causa da negociação com o casal espanhol, o pai também será investigado por tráfico internacional de pessoas. “Estamos analisando e fazendo algumas ouvidas e diligências para tentar fechar o caso o mais rápido possível. Já colhemos depoimentos dos conselheiros tutelares e da irmã mais velha”, pontuou o delegado.

Apesar da ilegalidade, a mãe pode ser liberada em 15 ou 30 dias e responder ao processo em liberdade, caso seja confirmado que ela não tem antecedentes criminais. “O marido atribui a responsabilidade da venda a ele mesmo, mas os depoimentos se contradizem e a mãe também é cúmplice”, diz Geraldo Costa.
A prisão do casal é resultado de ação conjunta das polícias civis de Pernambuco e da Paraíba. Através da denúncia de uma comerciante de Campina Grande, que desconfiou da conversa da mãe no Facebook, na qual ela oferecia a filha, os policiais chegaram até a dupla. A menina seria trocada por R$ 1,5 mil, um notebook e mais dez parcelas de R$ 200. A mulher formalizou denúncia ao Ministério Público da Paraíba e à Polícia Civil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário