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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

INVESTIGAÇÃO Comissão da Verdade pode analisar caso Jeremias

Irmã de Paulo Roberto Pinto, o Jeremias, assassinado em 1963, em Itambé, terá encontro com membros do colegiado nesta terça (24) para discutir inclusão do caso na pauta da comissão

Publicado em 23/09/2013, às 06h23

Lélia Maria participou de ato, em Itambé, em memória do irmão / Igo Bione/JC Imagem

Lélia Maria participou de ato, em Itambé, em memória do irmão

Igo Bione/JC Imagem

A Comissão estadual da Verdade analisa a possibilidade de investigar o assassinato de Paulo Roberto Pinto, o “Jeremias”, militante trotskista morto a mando de latifundiários da Mata Norte de Pernambuco, em agosto de 1963. O caso, conhecido como a “Chacina do engenho Oriente”, foi tema de uma série de reportagens publicadas pelo JC entre os dias 30 de agosto e 1 de setembro deste ano. Em comemoração ao 73º aniversário de nascimento do líder camponês, sua irmã mais nova, Lélia Maria Pinto, veio ao Recife, onde se reunirá amanhã com membros da colegiado.
De acordo com Henrique Mariano, um dos membros da comissão que investiga os crimes no campo, a reunião será um encontro preliminar. “Ela (Lélia Maria) será recebida pelos membros da comissão, mas ainda não há uma pauta específica. O início do trabalho de investigação vai depender dessa conversa e do material que for fornecido para subsidiar a investigação. Temos todo o interesse em ouvi-la”, adiantou o advogado.
Como Jeremias nasceu em São Paulo, mas foi assassinado enquanto atuava em Pernambuco, no município de Itambé, é possível que o trabalho de investigação seja executado em parceria com a Comissão Nacional da Verdade.
Moradora de Mogi das Cruzes (SP), Dona Lélia Maria desembarcou no Recife, na última quinta (19). Passados 50 anos da morte do irmão, ela pisou em Itambé pela primeira vez no sábado (21), quando participou de um ato em memória de Jeremias no Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município. Num depoimento emocionado, disse que a família nunca superou a perda do “Paulinho”, como era chamado seu irmão pelos pais e familiares.
“Na época, os companheiros dele divulgaram uma carta dizendo que a família enfrentava a morte com muita coragem. Que coragem o quê, cara pálida? Nunca superamos isso. Nós sofremos muito”, desabafou.
Dona Lélia Maria contou que sempre teve o desejo de visitar o local onde Jeremias viveu antes de ser morto. Aos 22 anos, ele chegou a Pernambuco e passou a atuar na Mata Norte do Estado, junto aos camponeses. Nos arredores de Itambé, chegou a liderar greves e reivindicações por melhores condições de trabalho. Terminou sendo assassinado ao liderar uma mobilização de trabalhadores do engenho Oriente pelo pagamento do 13º salário. O tiro que matou Jeremias foi disparado por um capanga do proprietário do engenho, José Borba.
Na época, o então governador Miguel Arraes (PSB) instaurou um inquérito para apurar o caso. A investigação, no entanto, não chegou a ser concluída devido ao golpe militar, em abril de 1964. O promotor responsável, Murilo Barbosa, chegou a ser perseguido pelas forças da repressão. “É muito bom, 50 anos depois, poder ver a terra onde ele (Jeremias) pisou, os lugares por onde ele passou e ver pessoas com quem ele conviveu. Só tenho a agradecer”, retribuiu Dona Lélia Maria.

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