Estudantes de letras da universidade dizem que não conseguiram colar grau e reclamam da situação atual do curso
Publicado em 03/08/2013, às 08h05
Erick França
efranca@ne10.com.br
Sheila lembra que desde o 1º período alunos pediam aulas presenciais e dinâmicas
Foto: Divulgação
Concluintes da primeira turma de ensino a distância (EAD) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) não têm motivos para comemorar. O curso de licenciatura em letras-português acabou marcado por transtornos nos quase seis anos de duração. Mesmo com tudo concluído, segundo os alunos, a universidade impediu a colação de grau.
Adiel Melo é concluinte do polo Limoeiro, no Agreste, mas deixou de exercer um cargo público porque o diploma não saiu. Ele recebeu apenas uma declaração da universidade. "Fui desclassificado de uma seleção simplificada para professor porque a declaração de conclusão dada pela universidade não tem validade jurídica", explicou.
Segundo os estudantes, há quase dois anos não há webconferências, que são aulas ministradas via internet, nem material didático impresso
De acordo com o site do Ministério da Educação, o processo de reconhecimento do curso está em análise sob nº 201307231. Sem o reconhecimento, o diploma não tem validade. O site informa que o reconhecimento deve ser solicitado pela instituição quando o curso de graduação atingir metade da carga horária.
O E-Letras teve início no primeiro semestre de 2008. Segundo os estudantes, há quase dois anos não há webconferências, que são aulas ministradas via internet, nem material didático impresso. A estudante do 7º período do polo Ipojuca Sheila Laete, estudava Gestão Ambiental, também a distância, no Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), mas desistiu para cursar de letras. "Desde o primeiro período, solicitamos à coordenação e aos professores mais aulas presenciais e atividades mais dinâmicas, como chats on line e seminários".
Eliane Maria, 8º período do polo Limoeiro, tinha o objetivo de estudar no Recife, mas por vários motivos não conseguiu se mudar para a capital. O EAD foi uma forma dela conseguir cursar o ensino superior sem sair de sua cidade. "Com o ensino a distância estou realizando meu sonho, mas essa metodologia empregada no curso poderia ser melhor aplicada. Precisamos de mais retorno dos professores e tutores. Por exemplo, as webconferências são excelentes recursos para estar em contato com o professor e tirar dúvidas, porém não temos mais. Fora que deveriam ter vídeos de aulas e material impresso disponíveis para os alunos e, infelizmente, não temos nada disso".
Atualmente, esse curso superior está funcionando igual a uma escola pública municipal
Dilma Luciano, primeira coordenadora do E-Letras
Outro problema é a elevada evasão do curso. Segundo pesquisa da primeira coordenadora do E-Letras, Dilma Luciano, dos 200 alunos que entraram na primeira turma, apenas nove concluíram o curso no semestre passado. Segundo o Censo EAD.br 2011, divulgado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), a média de evasão de alunos nos cursos autorizados é de 20,5% em todo o Brasil. De acordo com a pesquisa orientada pela professora, na UFPE a média pode chegar a 27,5%, em relação à primeira turma.
“A gente não deixa a desejar aos cursos presenciais. Os professores do EAD são doutores e ensinam na universidade. Mas os problemas de avaliação e a falta de assistência comprometem o andamento do curso. Os alunos não saíram do jeito que entraram, mas não saíram do jeito que deveriam ter saído. Sem a solução política eu não acredito que o curso ande como se deve andar. Atualmente, esse curso superior está funcionando igual a uma escola pública municipal”, diz Dilma Luciano.
A Pró-Reitoria para Assuntos Acadêmicos (Proacad), informou que faltou aos alunos a integralização do curso para solicitar a colação de grau em separado. Nesses casos, se o aluno estiver concluído todas as exigências, não é preciso de uma cerimônia com várias pessoas, mas a assinatura da documentação no gabinete do diretor do Centro Acadêmico do curso. Já a coordenação do E-Letras negou as acusações e informou que os livros foram entregues aos alunos e que os professores podem fazer webconferências ou vídeoaulas quando desejarem.
MÉTODO É DEFENDIDO EM OUTRAS INSTITUIÇÕES
O ensino a distância funciona normalmente em diversas universidades públicas brasileiras. No nordeste, os cursos de letras da Universidade de Pernambuco (UPE) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) são exemplos próximos. O curso paraibano atende a, aproximadamente, 1800 alunos. Já a instituição pernambucana reúne mais de dois mil estudantes em todos os seus cursos.
"Aqui na UPE, o curso foi fundado em 2006. Nós trabalhamos com seminários, que podem ser presenciais ou virtuais, aula tira-dúvidas aos sábados, com o professor, além de videoconferência. Fora isso, entregamos o material impresso para os nossos alunos", explica o coordenador do Núcleo de Educação a Distância da UPE, Renato Medeiros.
A UFPB forma professores de português nessa modalidade desde 2010. A instituição oferece webconferência, vídeoaulas e material pedagógico impresso para os discentes. “Em alguns lugares é difícil termos webconferência, pois é necessário uma conexão rápida de internet. Daí começamos a trabalhar com oficinas presenciais nos polos. Realizamos uma semana de visitas com seminários presenciais”, informou a coordenadora do curso de letras, a professora Ana Cláudia Felix Roberto.
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