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terça-feira, 3 de setembro de 2013

“É um atentado à liberdade de expressão”, diz Emiliano José após censura em site

Igor dos Santos*
O jornalista e deputado Emiliano José foi vítima de censura após publicar um texto em seu site em que traz depoimentos que denunciam o ex-oficial da PM e hoje pastor, Átila Brandão.

Crédito:Divulgação
Jornalista fará depoimento na Comissão da Verdade de SP

José havia publicado em seu site e no jornal A Tarde, no dia 11 de fevereiro de 2013, um texto intitulado “A premonição de Yaiá”, que trazia depoimentos de Maria Helena de Afonso de Carvalho, mãe de Renato Afonso de Carvalho, professor de história que teria sido vítima de tortura por Brandão.

No depoimento, Maria denuncia Brandão pela tortura seu filho no Quartel dos Dendezeiros, em Salvador (BA), em 1971, para tentar saber o que Carvalho havia feito no Paraná em ações do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, ao qual ele pertencia.

“Essa é a síntese do artigo que parte do depoimento de uma fonte que, apesar de já estar morta, foi checado com seu filho a veracidade do que estava ali antes de ser publicado”, diz José.

O jornalista sofre processos na área crime, onde pode ser condenado à prisão, e na área civil. Se condenado, pode ter de pagar R$ 2 milhões de indenização por ofensas morais. A Justiça já determinou que ele retirasse o texto do blog e que o pastor tenha direito de resposta no jornal A Tarde. Os advogados do deputado já recorreram dessa decisão. A próxima audiência está marcada para 29 de outubro.

Sobre os processos contra ele, José acredita que são “um atentado óbvio a liberdade de expressão”. Para o jornalista a ação de Brandão seria um absurdo e uma inversão da lógica. "A partir do momento que você tem algo que chamo de justiça de transição, que é quando você tem uma comissão da verdade nacional para apurar os crimes cometidos na ditadura, um torturador denunciado pela sua vítima resolve processar um torturado, porque sou um dos presos do período. Se não fosse trágico, seria irônico o fato de eu estar sendo processado por alguém denunciado como um torturador”, afirma.

O deputado defende que a sociedade brasileira passa por um momento em que pretende elucidar os acontecimentos do período dominado pelos militares. "Ele [Brandão] é que teria que explicar, de alguma maneira, à sociedade brasileira, porque torturou Renato Afonso de Carvalho, e não pretender cercear a liberdade de expressão. O fato de ele, hoje, ser pastor na igreja batista não o redime dos crimes do passado”, acrescenta. 

Emiliano José conta que escreveu um novo artigo sobre o caso. Intitulado “Corpo mutilado querendo se recompor”, o texto foi veiculado no site da CartaCapital e traz um depoimento do próprio Renato Afonso de Carvalho. "Ele relata sua prisão, sua vida, a ida para o Rio de Janeiro, a prisão lá, a tortura violenta e como ele foi salvo pelo cardeal Eugênio Sales”. A ideia do jornalista é escrever um terceiro artigo sobre o assunto.

Comissão da Verdade

Nos dias 28 e 29 de agosto, o jornalista estará em São Paulo para depor na Comissão da Verdade. O deputado diz não saber ainda sobre o que será indagado, mas afirma estar aberto para ser questionado sobre sua vida, carreira política, o enfrentamento duro da ditadura, sua prisão e tortura. “E com certeza eles vão querer saber da história do torturador que está processando um torturado”, acrescenta.

Livro

O deputado ainda aproveita a visita à capital paulista para lançar seu livro “Galeria de Lembranças do Mar Cinzento - Golpe, tortura, verdade”, o quarto livro de uma série de autoria do jornalista.

* Com supervisão de Vanessa Gonçalves

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