Em outubro, o diretor de políticas sociais do Ipea, Herton Araújo, colocou o cargo à disposição
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discordar da decisão do instituto em suspender a divulgação de estudos durante a campanha
eleitoral
Publicado em 06/11/2014, às 20h15
Foto: ABr
Confrontado com dados levantados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que apontaram um aumento no número de brasileiros que vivem na extrema pobreza, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, disse nesta quinta-feira (6) que o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome encaminhou um ofício ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para que a amostra seja analisada com mais "profundidade". De acordo com Mercadante, o governo está fazendo uma "advertência".
"Queremos que o IBGE analise com mais profundidade a amostra porque todos os outros índices mostram que a pobreza caiu e que esse indicador de renda zero pode ter algum problema metodológico. De qualquer forma, os dados são para ser analisados, debatidos, com toda a transparência", disse o ministro a jornalistas, depois de participar de cerimônia no Palácio do Planalto de homenagem a servidores.
"Não houve nenhum estudo do Ipea sobre esse assunto. O que o Ipea fez é uma base de dados, uma forma de agregar esses dados e disponibilizar no seu portal. Não há nenhum estudo até este momento. A pobreza caiu, continua caindo, e há uma variação em relação à extrema pobreza dentro da margem de erro estatística da pesquisa." De acordo com o Ipea, o número de pessoas em situação de extrema pobreza - ou seja, que vivem menos de R$ 70 por mês - teria aumentado de 3,6% da população para 4% entre 2012 e 2013. De 2003, início da série histórica, a 2012, a queda foi contínua, trajetória interrompida no ano passado.
Em outubro, o diretor de políticas sociais do Ipea, Herton Araújo, colocou o cargo à disposição por discordar da decisão do instituto em suspender a divulgação de estudos durante a campanha eleitoral, o que provocou uma crise interna. Araújo pretendia divulgar um levantamento com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) sobre miséria. "Estamos fazendo essa advertência. De qualquer forma, (o resultado do Ipea) é um variação pequena. A pobreza caiu fortemente, a tendência de queda da pobreza e extrema pobreza é consistente por tudo que foi feito: o desemprego caiu, o Bolsa Família teve reajuste e aumentou cobertura", garantiu o ministro.
Metodologia
De acordo com Mercadante, o governo aponta que a variação positiva no número de miseráveis pode estar relacionada ao grupo de pessoas que declararam renda zero. "Quando você pega o questionário e olha o patrimônio (das pessoas em extrema pobreza), ou por exemplo, o nível superior (na educação) está muito acima da faixa seguinte que declarou que recebia renda. Então o que pode estar acontecendo, o que precisa ser apurado, é se não são pessoas que não declararam a renda e foram contabilizadas como renda zero", comentou o ministro. "Tem que se tomar cuidado. Inclusive o próprio MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) encaminhou ao IBGE pedindo uma análise mais cuidadosa porque o que cresce ali é o contingente de renda zero."
Na avaliação de Mercadante, esse é um "debate muito bom". Para o ministro, é difícil que qualquer acadêmico que estude a pobreza com profundidade possa concluir que houve uma mudança de trajetória na redução da pobreza extrema a partir de uma "variação muita específica" e dentro da margem de erro.
Questionado se o Ipea não estaria equivocado, o ministro respondeu: "Não posso dizer isso. Vamos aguardar o debate, os acadêmicos, a discussão e o pronunciamento final do IBGE. Da última vez, o IBGE publicou o dado (da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2013), apontamos o problema metodológico e foi feita inclusive uma comissão de sindicância para verificar, porque houve erro metodológico amostral. Vamos aguardar agora a avaliação final. Não posso fazer nenhum pré-julgamento."
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