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sábado, 21 de setembro de 2013

Artigo: “Transpondo a seca”, de Humberto Costa

Foi do economista Celso Furtado que saiu a mais conhecida definição do drama vivido por milhões de nordestinos há séculos. Ele chamou de indústria da seca a estrutura sócioeconômica do semiárido, marcada pela ausência histórica de políticas públicas, a pobreza extrema e a falta de água. Em números, o semiárido representa 57% da área total do Nordeste, 40% de sua população e apenas 30% do seu Produto Interno Bruto (PIB).
Boa parte da população economicamente ativa da região vive da agricultura e da pecuária em pequenas propriedades familiares. São 10 milhões de habitantes, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que sobrevivem de atividades muito vulneráveis às secas e que em épocas de estiagem mal conseguem tirar da terra o alimento para as suas famílias. Calcula-se que dos últimos trezentos anos, 85 deles foram de chuvas escassas, inexistentes ou mal distribuídas no semiárido.
Segundo dados do Ministério da Integração Nacional, todo o Nordeste possui apenas 3% da disponibilidade de água do país. E é do rio São Francisco que sai a maior oferta de toda região: 70%. Não é atoa que o projeto é pensado desde o império. De lá para cá, de Getúlio Vargas a Fernando Henrique Cardoso, todos colocaram no papel propostas.
Foi apenas com a decisão do nordestino, filho do semiárido, Luís Inácio Lula da Silva, que o projeto de transposição rio São Francisco começou a ganhar vida. A obra vem somar a todo o esforço do governo do PT de garantir uma maior distribuição de renda e um maior desenvolvimento da região.
Mesmo com o empenho do ex-presidente, a transposição sofreu com a adequação técnica do projeto básico. A obra teve sua conclusão adiada em três anos. Sabendo da importância do projeto, o Senado Federal criou uma comissão especial, da qual sou relator, para superar os entraves burocráticos e técnicos e garantir a sua conclusão.
Até agora foram realizadas quatro audiências públicas com nomes como o do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho. A comissão também vem cobrando explicações de empresas que atrasaram as suas entregas e realizando visitas frequentes aos canteiros de obras. Tudo isso para que o novo cronograma anunciado pelo ministro possa ser de fato confirmado. A expectativa é que até o final de 2014 seja entregue no eixo leste e no eixo norte 100 km de canais de água.
Aguardada há centenas de anos a obra não pode mais esperar. Além de transpor água, ela também transpõe esperança para a população, garante mais empregos e uma perspectiva melhor para uma população que há séculos viveu com uma seca também de oportunidades.
O artigo acima foi originalmente publicado no jornal Diario de Pernambuco no dia 15/09/13. Humberto Sérgio Costa Lima é médico, professor universitário e jornalista. Foi ministro da Saúde entre 2003 e 2005 e, em 2010, se elegeu o primeiro senador do PT de Pernambuco.

Foto: Tássio Alves.

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