Depois que as denúncias de corrupção viraram notícia, o orgulho dos empregados se
transformou em vergonha
Publicado em 07/12/2014, às 07h53
Maior empresa da América Latina e uma das maiores companhias de energia do mundo, a Petrobras sempre foi motivo de orgulho para os seus mais de 86 mil empregados, afinal eles formam uma elite de profissionais brasileiros dos mais variados ramos do conhecimento.
Mas depois que o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa passou a figurar nas páginas policiais, abrindo a sua participação e o que sabe sobre o esquema do Petrolão – para ter uma pena reduzida e livrar suas filhas das acusações da Polícia Federal –, a altivez dos seus empregados foi tomada pela vergonha, perplexidade e também pela fé de que tudo isso passe logo para voltarem ao trabalho em paz.
Apesar da esperança, eles não podem escapar da opinião pública, hoje muito desfavorável. Apesar da história de mais de 60 anos de sucesso da petrolífera, que espelha o sonho do Brasil grande, o escândalo envolvendo seu nome é tão gigante quanto o seu tamanho, o maior já visto até hoje no Brasil. Até agora os cinco delatores na trama já aceitaram devolver cerca de meio bilhão de reais aos cofres públicos. Por isso, é difícil seus funcionários escaparem dos estigmas.
Nas ruas, é fácil perceber o quanto as pessoas confundem os desvios praticados por alguns diretores. Por causa da cobertura maciça da imprensa, os populares tendem a generalizar, vinculando a empresa à corrupção. É claro que isso não condiz com a realidade, pois, apesar de estar enfrentando problemas relacionados a desvios, eles foram praticados apenas por algumas pessoas. A Petrobras continua sendo um patrimônio brasileiro e celeiro da tecnologia desenvolvida em solo brasileiro.
“Tudo isso arranha a nossa imagem, nossos amigos e familiares sempre nos lembram do escândalo. Mas é um equívoco total vincular o trabalhador da Petrobras aos escândalos. Esse esquema não chega nem a 1% dos funcionários, são poucos aqueles que estão envolvidos. Mas é importante salientar que, em qualquer empresa, pessoas ligadas ao setor de contratação de serviço sempre tentam levar alguma vantagem pessoal, inclusive na sua empresa. Acho que isso tem a ver com pessoas sem dignidade e respeito ao próximo”, diz o técnico de operações da Refinaria Abreu e Lima, Rogério Almeida. A própria construção da refinaria pernambucana aparece em meio aos escândalos. Apesar de ser uma obra tão importante, que traz protagonismo a Pernabumbuco na operação da petrolífera, hoje com uns 700 funcionários diretos trabalhando localmente. O início das operações da refinaria não foi marcado por uma cerimônia de inauguração, até agora. O clima, infelizmente, não está para festas.
Alguns funcionários preferem falar sob a condição de anonimato. Internamente a empresa tenta orientar seus empregados a não falarem sobre os escândalos, nem mesmo com familiares. Mas, seguir a orientação no dia-a-dia é difícil. “As pessoas comentam na rua, no médico, no shopping e isso gera um desconforto, vergonha. É difícil não ser questionado, até por familiares e colegas de faculdade. As pessoas perguntam se a gente sabia de alguma coisa. Falar sobre isso é incômodo”, relatou um técnico da petrolífera com mais de 10 anos de casa. “Na verdade, a nossa sensação é de perplexidade com tudo isso, consternação. A gente, como qualquer brasileiro, também foi pego surpresa. É péssimo ser estigmatizado por um problema, trabalhando numa empresa que dá orgulho de participar”, disse.
Para muitos deles, a divulgação pela mídia dos mal-feitos dentro da Petrobras ajuda na generalização.
“A mídia passa uma visão distorcida da situação. O escândalo envolve a diretoria da Petrobras e a opinião pública termina vinculando o escândalo aos funcionários. Há uma generalização. As pessoas assumem como verdade que os funcionários da companhia têm relação com o caso e que a gente sabe de alguma coisa”, disse um engenheiro da refinaria.
Ele reforça dizendo que o problema da Petrobras hoje envolve apenas a diretoria. “Os diretores são indicados políticos e, no Brasil, eles são desonestos. Isso é uma generalização, claro, mas é a mesma que afeta a imagem dos funcionários da empresa. Isso incomoda, pois não queremos ser confundidos. Não queremos essa pecha”, diz.
Para Jair Oliveira, funcionário do setor Tributário da petrolífera, a questão dos desvios de verbas dentro da Petrobras é um episódio pontual. “A empresa já deu mostra que tem quadros competentes. Essas sensação vai passar e a empresa vai se recuperar, porque todos aqui confiam nos colegas”, salienta.
Enquanto esse dia não chega, a Petrobras tem de conviver com uma mancha que atinge sua imagem no mundo todo. Pela primeira vez em sua história a empresa não publicou o seu balanço patrimonial no terceiro trimestre. A empresa que audita suas contas se recusou a assinar o balanço, com receio de corroborar com números que podem esconder o esquema de corrupção. Esse foi o estopim para a Petrobras começar a ser investigada também nos Estados Unidos, onde também tem ações sendo negociadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário