Guadalupe, com roteiro de Angélica Freitas e desenhos de Odyr Bernardes, brinca com os clichês e faz uma narrativa divertida e delicada
Publicado Diogo Guedes
Com desenhos de Odyr e texto de Angélica Freitas, a história se passa no México
Reprodução
As roads trips, viagens em que o lugar de chegada é o que menos importa (o destino, de certa forma, é chegar a si mesmo), se transformaram já há muito tempo em um gênero tradicional das artes narrativas – tanto que já enfrentaram diversas desconstruções. A história em quadrinhos Guadalupe(Quadrinhos na Cia, 120 páginas, R$ 32), com roteiro da poeta Angélica Freitas e desenhos do quadrinista Odyr Bernardes, ambos pelotenses, é justamente uma história que trabalha despretensiosamente com essa vasta tradição. Além de uma mulher como personagem central – a Guadalupe do título – o livro envolve a mitologia asteca, o universo dos travestis e cogumelos alucinógenos e mágicos, em um enredo frenético e delicado.
Prestes a completar 30 anos, a jovem Guadalupe ajuda sua tia travesti, Minerva, a cuidar de um sebo, dirigindo um furgão para pegar e levar coleções de livros pela Cidade do México. Um dia, em meio a um engarrafamento, descobre que sua avó acabou de morrer ao bater a motocicleta em uma venda de tacos, um dia depois de prometer a ela que realizaria seu último desejo: um enterro em Oaxaca, a mais de 400 km de distância, em uma cerimônia com uma banda de música.
Acompanhada da tia, ela se dispõe a atender o pedido da avó. A viagem vai se tornando cada vez mais surreal com a progressão da trama, quando as duas passam a ser alvo de intervenções dos interesses do deus Xyzótlan, que está cada vez mais preocupado com a falta de novos fiéis para idolatrá-lo. Em meio a caronas estranhas e descaminhos, até o Village People aparece para ajudar as mocinhas.
A beleza da obra é a habilidade em tratar com naturalidade o que, em mãos menos hábeis, seria visto apenas como pitoresco. A HQ não teme tratar de clichês e até reforçá-los, mas sempre no limiar instável da autoironia e da quebra de expectativa. Esse humor e sutileza na trajetória absurda de Guadalupe mostra uma equação que representa bem tanto a poética de Angélica Freitas como os quadrinhos experimentais e sintéticos de Odyr.
Leia aqui um trecho da história.
Saiba mais no Jornal do Commercio desta sexta (28/12).
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