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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

REVOLUÇÃO MUSICAL O ano que Paris conheceu o Rei do Baião


Depois de várias tentativas frustradas de divulgar sua música na Europa, o cantor realizou seu sonho graças a uma mulher chamada Nazareth Pereira


“Provavelmente em abril ou maio deste ano Luiz Gonzaga irá espalhar o baião pelos quatro cantos da Europa: ‘Mas não farei como Marlene. Irei preparado. Levarei uma caravana composta dos meus macaquinhos (é como chama na intimidade seus companheiros Catamilho e Zequinha, sem o menor intuito de ofendê-los), de Humberto Teixeira e de um maestro orquestrador’. Sua intenção é improvisar baiões com motivos popularescos dos países por que passar. Todas as orquestras que o acompanharem aprenderão o verdadeiro ritmo do baião com as orquestrações feitas pelo maestro da caravana. Além disso o embaixador da música sertaneja procurará presentear o chefe do governo com um chapéu de couro estilizado à sua maneira”.

O texto acima foi pinçado de uma matéria de duas páginas sobre Luiz Gonzaga na Revista do Rádio (edição 5 de fevereiro de 1952). O cantor mostra que há 50 anos já pretendia antecipar o que nos anos 1980 passou a ser rotulado de world music, a mistura de gêneros e estilos de países de culturas diferentes. Mais ou menos o que Chico Science & Nação Zumbi começaram a fazer 40 anos depois. O visionário pernambucano de Exu pretendia fazer uma revolução musical usando o baião como arma, como aconteceu no Brasil.
No entanto Luiz Gonzaga só sairia do País 30 anos depois destas declarações. No auge do baião ele acenou várias vezes para viagens ao exterior, sempre frustradas. o Rei do Baião anunciou viagens a Portugal, onde o baião fazia relativo sucesso, e à Argentina, mas só concretizou seu sonho, há 30 anos, graças a uma cantora acreana criada no Pará, Nazareth Pereira, uma das primeiras cantoras brasileiras a fazer sucesso na França, embora tenha demorado até firmar a carreira na Europa.
O que aconteceu em 1978, com um compacto que trazia no lado A o Cheiro da carolina (Zé Gonzaga/Amorim Roxo). Ela convidou Luiz Gonzaga para ir com dona Helena Gonzaga visitá-la em Paris. Queria fazer um show com ele. A estreia de Gonzagão em Paris, acompanhado pelos músicos da banda de Nazaré Pereira, deu-se em 22 de maio, no Teatro Bobino.
Ela conta que o casal Gonzaga usufruiu muito da viagem. Passearam bastante, mas Lua não amoleceu tão fácil não. Em um restaurante parisiense chique, ele desdenhou o cardápio que lhe foi apresentado. Queria comer galinha com arroz, um prato que não havia ali. “Eu era bem conhecida, a música tocando muito no rádio, não foi difícil. Prometi discos aos garçons, explicando que Luiz Gonzaga era muito importante no Brasil. Sei que deram um jeito e ele comeu a galinha com arroz”, relembra.
Ele voltaria à França quatro anos mais tarde, já adoecido, compondo uma caravana de artistas brasileiros no Grand Halles, espaço de para shows no complexo cultural La Villette. Mas ele não mostrava muito entusiasmo em estar no exterior. Pediu para anteciparem sua volta, pegando um voo para a Suíça, e de lá para o Brasil.

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