Aliados até 2013, PSB e PTB preparam-se para protagonizar um dos maiores
confrontos eleitorais do Estado em outubro
Publicado em 23/02/2014, às 06h49
Alexandre Belém/JC Imagem
Aliados desde o segundo turno da eleição de 2006, que deu o primeiro mandato a Eduardo Campos (PSB), o atual governador e o senador Armando Monteiro Neto (PTB) – eleito no pleito de 2010, que reelegeu o socialista – preparam-se para protagonizar o maior confronto eleitoral pelo governo do Estado desde 1998, quando o então governador Miguel Arraes (PSB) e o ex-aliado Jarbas Vasconcelos (PMDB), ícones da esquerda pernambucana, realizaram um confronto direto entre ex-camaradas. Jarbas venceu por mais de um milhão de votos. Desta vez, o agora presidenciável Eduardo enfrentará – através do escolhido à sucessão, Paulo Câmara (PSB), 42 anos – o até recentemente aliado senador do PTB, depois de ter derrotado Jarbas há quatro anos, por três milhões de votos. Um tira-teima entre ex-aliados que deverá ter o PT, ex-parceiro por afinidade política, nos governos federal, do Recife e do Estado do lado do petebista.
Ao optar por um técnico, Eduardo vai influenciar, avaliam analistas políticos, o PT e o PTB a refletirem sobre suas estratégias para a eleição deste ano e a agilizar o processo pré-eleitoral. Parcela do PT, porém, defende a abertura de uma terceira frente, com uma candidatura própria, acreditando que aumenta as chances do segundo turno no Estado, e o setor sindical-ideológico resiste a apoiar o empresário Armando Monteiro.
Ao escolher um candidato com perfil técnico para disputar a sua sucessão pela Frente Popular, Eduardo repete a estratégia de 2012, quando elegeu prefeito do Recife o técnico e novato em política Geraldo Júlio (PSB), quer demonstrar que atende a uma preferência das ruas – aferida por pesquisas internas – e tenta vincular a escolha ao seu discurso nacional por em prática uma “nova política”.
Entendem os analistas que a disputa pode contar com duas chapas de pesos similares e, nesta situação, o diferencial deverá a lógica do discurso. Nesse sentido, a chapa governista pode sair na frente.
“PT e PTB não estão fazendo uma reflexão das eleições pela lógica que Eduardo tem feito. Não basta ganhar as eleições, vai ser preciso ter legitimada e governabilidade (a partir das ruas). O jogo do PTB e do PT é conservador, eleitoreiro, não estão vendo que há um deslocamento entre sociedade e Estado brasileiro, que é hoje um dinossauro. Eduardo quer manter as mudanças aqui (em Pernambuco), ligar suas gestões às demandas da sociedade e propor a reforma do Estado”, desenha a estratégica socialista o professor de sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Paulo Henrique Martins.
Seja quem fosse o nome escolhido por Eduardo, a candidatura já nasceria forte, entende o consultor político e analista de pesquisas Maurício Romão, do Instituto Nassau, pelo pragmatismo – o tamanho da aliança (19 legendas, cerca de 800 candidatos proporcionais), tempo de rádio e TV, maioria de prefeitos e governo bem avaliado –, mas, principalmente, pelo escolhido – o secretário da Fazenda, Paulo Câmara – preencher o perfil de gestor técnico “jovem e competente”, que atende à mensagem que o governador Eduardo Campos quer reproduzir nacionalmente.
“Se ele está propondo uma ruptura das práticas políticaS tradicionais, teria de apresentar alguém novo. A escolha não teve qualquer influência do que o PTB e o PT vão apresentar. Câmara é perfil ideal para se ajustar ao discurso nacional”, define Romão.
Ao se decidir por um técnico para o governo do Estado, mas convocando dois políticos experientes – o deputado federal Raul Henry (PMDB), 50 anos, indicado pelo ex-adversário Jarbas, e o ex-ministro da Integração Fernando Bezerra Coelho (PSB), 56 anos – para a chapa, na vice e para o Senado, Eduardo buscou montar uma majoritária equilibrada. Contemplou os dois lados e abrangeu Região Metropolitana, área de influência de Henry, e o interior, onde Bezerra Coelho (de Petrolina Sertão do São Francisco) construiu importante trânsito como ministro da Integração.
Como política não é uma ciência exata, a opção por um candidato de perfil técnico, que nunca disputou eleição, tem seu bônus, porém, pode ter seu ônus, observa o cientista político Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) Túlio Velho Barreto.
“Um desconhecido tem, inicialmente, baixa rejeição e é mais fácil transferir votos de um padrinho muito forte. Acontece que Eduardo estará envolvido numa disputa nacional, na qual não é favorito. E os desempenhos de Câmara e Eduardo tendem a estar associados. Eduardo pode ter dificuldades para ajudar a eleger seu sucessor”, aponta o risco Túlio Velho Barreto.
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