Aproximação entre PSB e PSDB tem sido motivo de preocupação para o Partido dos Trabalhadores; formação da chapa que disputará a sucessão do governador de Pernambuco praticamente sela acordo entre Eduardo Campos e Aécio Neves (PSDB) em torno de um pacto de não agressão, além de eventual apoio em um segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff; ao mesmo tempo, o PT, através de Lula, designou interlocutores para abrir um canal de negociação com Campos para que ele apoie a reeleição de Dilma em um segundo turno, a despeito das pretensões presidenciais do socialista
21 DE FEVEREIRO DE 2014 ÀS 18:25
Paulo Emílio, Pernambuco 247 - A definição do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), na montagem da chapa majoritária que disputará a sua sucessão vai bem além da fronteira pernambucana. A formação praticamente sela o acordo entre Campos e o pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, senador Aécio Neves (MG), em torno de um pacto de não agressão, além de um eventual apoio entre eles no caso de um segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff (PT), que tentará a reeleição. Ao mesmo tempo, o PT, através do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, designou interlocutores para abrir um canal de negociação com Campos no sentido de que este apoie a reeleição de Dilma em um segundo turno, a despeito das pretensões presidenciais do socialista.
A chapa escolhida por Eduardo Campos para disputar o Palácio do Campo das Princesas foi montada de maneira a atender não apenas o projeto estadual, mas também para abrir o leque do PSB na disputa presidencial. O caso mais emblemático está nos palanques estaduais de Minas e Pernambuco, redutos eleitorais tanto do socialista como do candidato tucano. Pelo acordo tácito firmado entre eles, o PSB não dificulta a vida de Aécio em sua terra natal, enquanto o PSDB se compromete a não criar problemas para Campos em Pernambuco.
Este pacto também garante uma certa tranquilidade para o governador acalmar os ânimos dentro da sua legenda, mais especificamente o do vice-governador João Lyra. Lyra , que esperava ser o indicado para disputar o pleito estadual, não aceitou a maneira como o processo de escolha foi conduzido e pode vir a ser um complicador na campanha pela eleição de Paulo Câmara.
Aécio, que nesta sexta-feira (21) reuniu-se com a bancada tucana e também com o governador Eduardo Campos, no Recife, deixou claro que o PSDB pernambucano deve se engajar na campanha pela eleição do secretário da Fazenda, Paulo Câmara, escolhido por Campos para encabeçar a chapa socialista. Este posicionamento também serve como uma sinalização para que o DEM e o PROS também apoiem a candidatura de Paulo Câmara.
A aproximação do PSB junto ao PSDB tem sido motivo de preocupação para o PT. Em nível estadual, o Partido dos Trabalhadores ainda não se recuperou do racha interno das últimas eleições municipais em 2012, estando dividido em três alas: os que apoiam a candidatura de Armando, os que são radicalmente contrários a esta aliança e a chamada “turma do queijo do reino [vermelhos por fora e amarelos por dentro]”, que apesar de defenderem as diretrizes da legenda apoiam a postulação nacional de Eduardo Campos.
Estas fissuras internas são responsáveis pelo fato de o PT pernambucano ainda não ter se posicionado oficialmente em torno do apoio à candidatura do senador Armando Monteiro Neto (PTB), já que muitos integrantes do partido ainda fazem pressão por uma candidatura própria. Um dos nomes mais cotados para esta empreitada é o do deputado federal João Paulo.
Um dos entraves para viabilizar este projeto está no fato de o parlamentar defender o posicionamento da Executiva Nacional em torno do apoio à candidatura petebista na disputa pelo Governo do Estado. O desejo para que o PT feche aliança em torno de Armando Monteiro Neto já foi colocada pelo ex-presidente Lula, pela presidente Dilma e pelo presidente nacional da sigla, Rui falcão.
Dentro da costura que vem sendo feita pelas duas legendas, o apoio do PT levaria João Paulo a ser o candidato do partido ao Senado na chapa encabeçada pelo petebista ao mesmo tempo em que assegura um palanque forte para a presidente Dilma em Pernambuco. João Paulo também teria como missão derrotar o ex-ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, que foi escolhido por Campos para disputar a única vaga para a Casa Alta no pleito de outubro.
Bezerra faz parte da estratégia desenhada pelo PSB em ampliar ao máximo a quantidade de representantes do partido no Congresso. Com uma bancada forte e ampla o bastante para fazer a diferença nas votações tanto do Senado como da Câmara, Campos terá a oportunidade de se firmar como uma das principais lideranças políticas do País, mesmo que não ganhe a corrida pelo Palácio do Planalto.
Já no caso do PT, se João Paulo aceitar disputar o Senado pela chapa petebista, a legenda corre o risco de ver a bancada pernambucana na Câmara dos Deputados encolher sensivelmente. Atualmente, a ala pernambucana do partido tem como seus representantes Fernando Ferro e Pedro Eugênio, além do próprio João Paulo, que é o maior puxador de votos da legenda quando o assunto são as eleições para a Câmara.
Como candidato ao Senado, existem dúvidas sobre a possibilidade do PT em eleger mais do que um deputado federal pelo Estado. O petista, porém, já externou que deseja disputar a reeleição. Fontes do PT, porém, asseguram que João Paulo poderá ser candidato ao Senado pela chapa petebista, desde que a missão seja designada diretamente por Lula e que sejam asseguradas certas garantias, entre elas a participação do próprio Lula e da presidente Dilma na campanha em Pernambuco.
Este caldeirão interno tem levado, ainda, muitos integrantes da legenda a defenderem a antecipação do calendário eleitoral definido pelo partido sob a alegação de que é necessário firmar uma posição seja junto ao PTB ou à própria militância. A pressão estaria sendo feita tanto por parlamentares que tentam a reeleição como por novos nomes dispostos a ganhar espaço e visibilidade.
Enquanto todos os partidos tentam sanar seus problemas internos e estudam qual será a estratégia que será adotada, seja em nível estadual ou nacional, o PT tenta uma última cartada para atrair o PSB para o palanque de Dilma em um eventual segundo turno, em detrimento de uma composição com o PSDB de Aécio Neves. Conforme apurado pelo Pernambuco 247, o ex-presidente Lula designou um interlocutor com bom trânsito, tanto entre o PT como o PSB, para abrir um novo canal de diálogo com Eduardo Campos. Apesar do contato ter sido feito, o governador ainda não decidiu se atenderá ao desejo do líder petista.
Petistas do alto escalão avaliam como viável a possibilidade do reatamento da aliança entre o PSB e o PT, muito embora seja preciso aparar arestas de ambos os lados que surgiram tão logo Campos se colocou como pré-candidato à Presidência da República. As farpas trocadas ao longo dos últimos meses e a formação de alianças nos estados, que acabaram por colocar partidos da base governista como adversários regionais, são apenas alguns dos pontos que parte do PT atribui às movimentações do socialista e não consegue digerir.
A movimentação política dos próximos dias será decisiva não apenas para os candidatos, seja na disputa pelos governos estaduais ou na corrida presidencial, mas para o futuro dos próprios partidos.
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