Mesmo com uma rotina difícil, torcedor baleado mostra sua vontade de viver
15/02/2014 17:46 -
Gabriel Accetti, da Folha de Pernambuco
Lucas Melo/Folha de Pernambuco
Apesar de tudo o que aconteceu, Lucas continua vivenciando o Náutico, em um quarto decorado, todos os dias
Era o início de uma noite de sábado, na data de 16 de fevereiro de 2013. O Náutico se preparava para entrar em campo, nos Aflitos, diante do Central, em jogo válido pelo Campeonato Pernambucano. O torcedor alvirrubro Lucas Lyra, então com 19 anos, se encontrava pelas redondezas do estádio. Porém, uma fatalidade marcaria para sempre a família do jovem. Após uma briga entre facções organizadas do Náutico e do Sport - que jogara na Ilha do Retiro horas antes -, um segurança, contratado por uma empresa de ônibus, disparou uma arma e o tiro atingiu a cabeça de Lucas. Momentos depois, ele era levado para o Hospital da Restauração. E há 365 dias, um leito hospitalar faz parte da rotina do torcedor, hoje com 20 anos.
Lucas Melo/Folha de Pernambuco
Escudo alvirrubro está gravado na pele do torcedor
Lucas Lyra, que passou um mês em coma, ficou internado no HR por pouco mais 60 dias. No final de abril, foi transferido para o Hospital Português, onde permanece até hoje. Um quarto com adereços alvirrubros, no 11º andar do prédio principal, tem sido praticamente uma extensão da casa da família. Desde o ocorrido, há um ano, a mãe, Cristina Lyra, não voltou mais para a residência no bairro da Várzea. Faz questão de passar dia e noite ao lado do filho. Os irmãos, Mirella e Joel, se revezam em dias alternados para dormir no hospital.
Lucas continua com o projétil alojado na cabeça. Durante todo esse tempo de internação, contraiu meningite, broncoaspiração e pneumonia. Mas Lucas é forte e vem progredindo. No fim de novembro, voltou a falar. “Quando a voz ‘saiu’, é como se ele tivesse nascido outra vez”, conta a família. Durante a reportagem, o jovem conversou normalmente com a Folha de Pernambuco. Ele está com o rosto corado e faz até brincadeiras. “Para mim, as melhores coisas são comer e falar. Minha barriga antes era bem dividida, e agora está gorda”, contou Lucas, que já recebeu a visita do ex-jogador Derley e aguarda pelas presenças do volante Elicarlos e do técnico Lisca - ambos já prometeram a Mirella que irão ver o fã alvirrubro.
Lucas Melo/Folha de Pernambuco
Suporte familiar é precioso e inspirador para todos
Eles têm consciência de que a pior fase já passou. “O período mais crítico foram as primeiras 72h após o acidente. A medicina tinha dado apenas 1% de chances de sobrevivência, e ele conseguiu. Hoje, acompanhamos com alegria a evolução dele. É um novo nascer, nós costumamos dizer que ele está comemorando o primeiro ano de vida. Lucas agora tem dois aniversários: 16 de abril e 16 de fevereiro”, diz Mirella, que se divide entre os cuidados com o irmão e um emprego na recepção do Náutico - obtido após o episódio, e cujo salário é de imensa importância para a família.
Só que Lucas ainda enfrenta limitações. Tem um déficit cognitivo e de memória recente, e só consegue realizar alguns movimentos com o lado direito do corpo - o lado esquerdo está paralisado. Isso ainda pode ser revertido, e por isso, a família Lyra aguarda ansiosamente a transferência dele para o Hospital Sarah Kubitschek, em Fortaleza, onde passará por tratamento intensivo. “Quando receber alta (do Português), ele vai para lá. Mas para isso, meu irmão precisa estar 100% bem clinicamente, pois só assim eles o aceitam”, conta Mirella.
Enquanto isso, a família segue vibrando a cada momento de evolução de Lucas. “Ele acorda todos os dias com um sorriso nos lábios, e diz para mim: ‘Bom dia, mãezona’”, conta Cristina, orgulhosa. “Espero que o caso dele não seja esquecido, a violência precisa acabar”.
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