A caxirola, uma espécie de chocalho verde e amarelo feito de plástico, foi apresentada à população brasileira em uma cerimônia festiva, como se ela representasse algo de realmente inovador e representativo de nossa cultura. A presidente Dilma Rousseff e a ministra da cultura, Marta Suplicy, se deixaram fotografar sorridentes, sacudindo aquela coisinha esverdeada que, na definição precisa de um jornalista inglês, se parece muito com uma granada de mão. O músico Carlinhos Brown, orgulhoso, afirmou ser o inventor da bugiganga, que está sendo fabricada pela multinacional The Marketing Store e deverá ser vendida por cerca de R$30,00. O grande mérito do “instrumento”, segundo Brown, seria a possibilidade de a torcida, portando o luxuoso chocalho, ser capaz de fazer a primeira “ola sonorizada”, como se todas as olas das torcidas já não fossem sonorizada o bastante pela voz dos torcedores.
Animado com a visibilidade e com a importância que adquiriu ao ter passeado pelas mãos da presidente do país e de ministros de estado, o chocalho de Brown resolveu fazer a sua estréia nos campos de futebol em uma partida do clássico Bahia e Vitória, no estádio Fonte Nova, em Salvador, a cidade natal de seu “criador”. Foram distribuídas, gratuitamente, 50 mil caxirolas entre os torcedores dos dois times.
O que nem a caxirola, nem Carlinhos Brown e nem Dilma Rousseff esperavam, era que os torcedores do Bahia acabassem fazendo um uso, digamos assim, criativo do chocalho oficial da Copa de 2014. O time baiano, que tem feito uma campanha sofrível, acabou perdendo para o grande rival e, em virtude da derrota, o gramado do Fonte Nova foi brindado com uma chuva de caxirolas. Enfim, o que esperar de uma gambiarra tão parecida com uma granada?
Aldo Rebelo, nosso ministro dos esportes, demonstrou surpresa e preocupação. O comunista, que no passado ficou famoso por tentar proibir expressões estrangeiras no Brasil e por querer transformar o Halloween em Dia do Saci, sempre mostrou ter tanto contato com a realidade quanto o personagem Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, mas, ainda assim, esperava-se que ele, como ministro, fosse capaz de prever um vexame internacional dessas proporções.
Fomos merecidamente ridicularizados pela imprensa internacional, que sempre duvidou da capacidade do Brasil de levar adiante um evento das proporções de uma Copa do Mundo e me parece óbvio que o torcedor vai sim, diante de um resultado negativo do time de Felipão, inundar os gramados dos belos estádios da copa com o chocalho incensado pelo governo ao patamar de nosso “instrumento oficial”. Espera-se que o governo volte atrás e reconheça o fracasso do empreendimento, certo? Errado!
A caxirola é um negócio de 3 bilhões de dólares e já está sendo produzida pela “The Marketing Store”, que dificilmente abrirá mão de seus lucros. Os custos de produção do brinquedo de Brown são desconhecidos, mas, para termos uma boa idéia, basta nos lembrarmos que o irmão mais velho e honesto do chocalho da copa, o caxixi, atinge, no máximo, a marca dos R$20,00, podendo custar bem menos.
O caxixi, espécie de chocalho artesanal que acompanha o berimbau é, ele sim, representativo da nossa cultura em algum grau, já que remete à música negra e à capoeira. É feito de palha trançada e, em seu interior, sementes ou pedacinhos de acrílico servem para produzir o som, sendo muito mais sustentável do ponto de vista ecológico do que a granada de mão de Carlinhos Brown. Além disso, é produzido artesanalmente pelo nosso povo e não em escala industrial por uma multinacional bilionária. O fato de o caxixi ser artesanal, em tese aumentaria os custos da produção e, por isso, ele deveria ser mais caro do que a caxirola, mas não é.
Brown, que na verdade não inventou coisa alguma, teria, para usar o termo do colunista José Simão, apenas “tucanado” o caxixi para auferir, a partir da apropriação indébita, lucros exorbitantes. Mas calma… Eu disse “tucanado”? Temos urgentemente que inventar outra palavra para esse tipo de prática, já que a caxirola é um oferecimento do governo do PT.
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