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sábado, 27 de abril de 2013

INVESTIGAÇÃO O curioso caso da "cota fantasma" do PSDB


Polícia Federal investiga denúncia de que oito moradoras de Brasília Teimosa foram inscritas sem saber na chapa proporcional do PSDB em 2012

Publicado em 28/04/2013, às 00h02

Bruna Serra

Moradoras de Brasília Teimosa alegam que

Moradoras de Brasília Teimosa alegam que "foram" candidatas sem saber

Edmar Melo/JC Imagem

Moradoras de Brasília Teimosa, célebre comunidade da Zona Sul do Recife, oito mulheres com idade entre 70 e 80 anos compartilhavam na última quarta-feira (24) um bolo de milho quentinho. A casa de número 14 da Rua Japerica virou ponto de encontro após elas descobrirem que foram vítimas de um crime eleitoral.
As oito estão impedidas de votar, tirar passaporte, tomar posse em cargo público ou participar de concursos. Não apresentaram as prestações de contas da campanha eleitoral do ano passado. O curioso é que elas dizem não saber que haviam disputado uma vaga na Câmara de Vereadores do Recife. Mas disputaram. E mais: foram votadas.
Atendendo a um pedido de Elides Queiroz, famosa líder comunitária de Brasília Teimosa, e de um homem identificado como Herberth Alexandre de Barros Campos, as oito mulheres assinaram um documento com informações sobre suas escolaridades.
“Ele foi na minha casa, ditou o que eu deveria escrever e depois pediu que eu assinasse. Me disse que era apenas para reativar o meu cadastro de filiação ao partido”, conta Maria da Paz do Nascimento, uma senhora discreta e de óculos. Ela se referia a Herberth, que em 9 de janeiro deste ano foi nomeado auxiliar no gabinete da vereadora Aline Mariano (PSDB), líder da oposição. O cadastro em questão é o do PSDB do Recife.
De posse do atestado de escolaridade e com os números da identidade, CPF e título de eleitor das oito mulheres, Elides Queiroz e Herberth abriram contas bancárias na agência do Banco do Brasil da Avenida Agamenon Magalhães. Em seguida, o registro de candidatura foi efetivado com uma previsão de gastos de campanha entre R$ 300 mil e R$ 360 mil.
“Um dia eu estava lavando minha calçada, quando um vizinho apareceu e perguntou: ‘Como a senhora se candidata a vereadora e nem avisa?’. Fiquei achando que era brincadeira até que meu filho entrou na internet e confirmou”, relata Sônia Lustosa, dona de casa na Rua Japerica e primeira a descobrir o esquema.
Após comentar com a vizinhança o ocorrido, Abraão Lustosa, filho de Sônia, descobriu as outras vítimas. Decidiram, então, procurar o advogado Marcel Barbosa, que ingressou com a queixa crime junto ao Tribunal Regional Eleitoral, sob o protocolo 191.299/2012, no dia 20 de dezembro do ano passado. Aline Mariano é citada no processo como parte beneficiada pela engenharia eleitoral praticada por seu assessor.
A motivação do esquema é simples. Para evitar que partidos ou coligações sejam dominados somente por homens, a legislação eleitoral exige uma participação mínima de 30% de mulheres no total de candidatos inscritos. Foi justamente para cumprir a determinação que os partidários da vereadora inscreveram as oito mulheres como candidatas.
“Não tenho nem um real no banco. De repente vejo meu nome na Internet com R$ 360 mil para prestar contas. De onde vou tirar um dinheiro desses?”, indagou Iraci Rita da Silva Melo.
Outras vítimas, Maria Cleópatra Braz e Maria Luiza Moreira dos Prazeres ainda conseguiram dois votos cada uma. “Como é que pode isso?”, questionou Maria do Livramento Costa, última a chegar ao encontro por causa de dificuldades de locomoção. Ela tem 76 anos.
Mais nova entre as candidatas virtuais, Risonelma Bezerra carrega os documentos que provam que sua assinatura na carteira de identidade e na ficha de candidatura são grosseiramente diferentes. “Sou muita amiga do filho de dona Elides e só assinei esse documento porque confiei. Ele foi na minha casa e até foto de celular tirou. Depois descobri que era a foto da urna”, conta.
DILIGÊNCIAS
O crime vem sendo investigado pela Polícia Federal e deve ser julgado na esfera eleitoral. Assim que recebeu o processo em seu gabinete, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), desembargador Ricardo Paes Barreto, encaminhou-o à polícia.
O caso ainda está em fase de inquérito e algumas diligências estão sendo realizadas para esclarecer detalhes. A queixa-crime impetrada conjuntamente pelas oito mulheres pede o indiciamento de Elides Queiroz e Herberth Alexandre por falsidade ideológica e estelionato.
Aline Mariano é citada como beneficiária do golpe, mas novas diligências realizadas pela PF irão averiguar se há o envolvimento da vereadora com os responsáveis por coletar as assinaturas e fazer o registro das candidaturas.

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