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sábado, 20 de abril de 2013

Os EUA ainda pretendem vender “inteligência” ao Brasil?


por Luiz Carlos Azenha
São compreensíveis as manifestações de patriotismo dos estadunidenses depois que dois patifes explodiram bombas de fabricação caseira na maratona de Boston. Ao fim e ao cabo destes dias trágicos, os irmãos deixaram um rastro de dor e destruição: 4 mortos e quase 200 feridos.
A capa da revista direitista Época, das Organizações Globo, demonstra que o lobby para que o Brasil compre serviços de segurança dos Estados Unidos para “proteger” a Copa será intenso — e, provavelmente, bem sucedido.
Teremos todos aqueles escudos, armas que dão choques elétricos e lançadores de gases que couberem em nosso complexo de inferioridade.
Na Segunda Guerra Mundial, quando os soldados brasileiros chegaram à Itália no inverno, os pracinhas vestiam roupas de verão, me contou em uma entrevista em Bonn, então capital da Alemanha, o embaixador dos Estados Unidos Vernon Walters.
Walters, um homem de inteligência, durante a guerra fez a ponte entre militares brasileiros e estadunidenses estacionados na Itália. Mais tarde, nos anos 60, como adido militar no Brasil, ajudou a planejar o golpe de 1964. Entre outros que Walters conheceu na Itália estava Castelo Branco, que viria a ser mais tarde o primeiro ditador do ciclo militar.
A maior dificuldade dele com os pracinhas, segundo Walters, foi encontrar botas de inverno quer servissem no pé dos mirrados mas valorosos combatentes brasileiros.
Espera-se que, em 2014, ao menos nos sejam vendidos trajes que sirvam nos policiais brasileiros.
Os fatos, no entanto, indicam que o Brasil pode comprar gato por lebre.
Os atentados do 11 de setembro de 2001 deixaram evidente, entre outras coisas, um tremendo fracasso da inteligência dos Estados Unidos, nas quais o país sempre investiu uma fortuna, quantia mais que triplicada depois da tragédia.
De Kurt Einchenweald, no New York Times: “Em 6 de agosto de 2001, o presidente George W. Bush recebeu um relatório secreto das ameaças representadas por Osama bin Laden e sua rede terrorista, a Al Qaeda. O ‘relatório diário presidencial’ daquela manhã — o documento altamente secreto preparado pelas agências de inteligência dos Estados Unidos — tinha o agora infame título: Bin Laden determinado a atacar nos Estados Unidos. Algumas semanas depois, em 11 de setembro, a Al Qaeda atingiu aquele objetivo”.
Várias pistas sobre a presença dos terroristas sauditas em solo estadunidense foram simplesmente desprezadas ou pelo menos não levadas suficientemente a sério.
Nos dias seguintes aos atentados, o governo Bush permitiu que parentes de bin Laden e outros sauditas deixassem os Estados Unidos às pressas e, meses depois, começou a planejar a invasão do Iraque.
Entenderam os grifos? Os terroristas de 11 de setembro eram sauditas e, provavelmente, ligados a uma das vertentes mais fundamentalistas do islã, o wahabismo da Arábia Saudita, cujo dinheiro financia madrassas e universidades islâmicas em todo o mundo, inclusive a universidade de Darul Uloom, em Deoband, na Índia, que tive o prazer de visitar com o cinegrafista Sherman Costa nos anos 2000, para uma reportagem.
O movimento deobandi formou muitos dos professores/religiosos/militantes que deram cimento ideológico ao talibã no Afeganistão. Hoje, tem grande influência entre os pashtun que habitam a região fronteiriça entre o Paquistão e o Afeganistão.
Meu ponto é que terroristas sauditas foram os responsáveis pelo 11 de setembro mas os Estados Unidos invadiram… o Iraque (no caso, com inteligência forjada, como em “armas de destruição em massa”).
Em Boston, desde já é óbvio que houve novo fracasso de inteligência.
Em janeiro de 2011, agentes do FBI entrevistaram Tamerlan, o irmão mais velho dos dois acusados de plantar as bombas de fabricação caseira na maratona de Boston.
A checagem foi feita a pedido do governo russo.
Numa entrevista na Rússia, a mãe de Tamerlan, Zubeidat, afirmou que os agentes disseram a ela que o filho era “um menino excelente”, mas que ao mesmo tempo ele estava se informando “através de sites realmente extremistas e que tinham medo dele”, de acordo com o New York Times, que reproduziu informações da agência estatal russa RIA Novosti.
Ao Russia Today, ela disse: “Eles [agentes do FBI] vinham até minha casa, conversavam comigo… eles me diziam que ele [Tamerlan] era um líder extremista e que tinham medo dele. Eles me diziam que toda informação que Tamerlan recebia era através de sites extremistas… eles o controlavam, controlavam cada passo dele… e agora dizem que isso é um ato terrorista! De jeito nenhum isso é verdade, meus filhos são inocentes!”
Reproduzindo entrevista do Wall Street Journal com o pai dos dois acusados, o diário britânico Independent publicou:
“O pai disse que estava presente [durante visita do FBI], mas não se preocupou: “Eles diziam ‘sabemos os sites que você frequenta, sabemos para quem você liga, sabemos tudo sobre você. Tudo’. Eles disseram ‘estamos checando e de olho’– foi isso o que disseram”.
Ou seja, pela descrição dos pais a vigilância sobre a família foi mais extensa e profunda do que revelou o próprio FBI, que em nota oficial disse nada ter encontrado contra Tamerlan.
Depois do interrogatório, o irmão mais velho viajou para a Rússia, onde passou seis meses no Daguestão. Ao voltar, aparentemente criou uma página no You Tube e incorporou vários vídeos jihadistas, conforme descrição do New York Times.
A essa altura, onde andava o FBI, que abertamente acompanhava a navegação de Tamerlan na internet?
Isso me parece mais surreal que o irmão mais novo, Dzhokhar, escapar a pé de um cerco policial, com ferimentos no pescoço e na perna.
Mais surreal que o dono da casa, desarmado, ter encontrado Dzhokhar escondido no barco que ficava no quintal, sem que houvesse reação; chamou a polícia, que chegou… atirando.
Mais surreal que o New York Times ter escondido o pedido da Rússia para que Tamerlan fosse investigado pelo FBI… no meio do texto.
Mais surreal que os Estados Unidos venderem “inteligência” ao Brasil na Copa de 2014.

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